terça-feira, janeiro 30, 2007

Barcelona e a IVG

Nos próximos dias 8 a 12 de Fevereiro, irei estar de visita à cidade de Barcelona. E perguntam vocês: e nós com isso? A resposta é que um destes dias coincide com a data de realização do referendo onde se colocará a todos os portugueses aptos a votar a questão "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?".

Confesso que me chateia profundamente não ter a possibilidade de votar porque esta é uma questão sobre a qual tenho uma profunda convicção. No entanto, quando marquei a viagem, a data do referendo ainda não estava fixada.

Nem sequer vou encetar aqui qualquer tentativa de discussão com base em princípios morais ou religiosos. Cada um tem os seus próprios ideais morais e provavelmente não será com meia dúzia de palavras que se verá convencido de outra coisa. Fica apenas uma laracha: acho que este é mais um exemplo, à semelhança da contracepção, em que a igreja católica dá mostras de não ter acompanhado a mudança do resto da sociedade em que está inserida.

Quanto a questões morais, tenho apenas a dizer que não compreendo a necessidade de, nesta matéria, haver a imposição um código moral por parte da lei. Como dizia ontem, o Prof. Vital Moreira no Prós e Contras, eu também não sou a favor do aborto mas acho que devem haver argumentos mais convincentes para que uma mulher não faça um aborto do que simplesmente dizer “Não podes fazer um aborto porque a lei não deixa, fim da discussão”. Acho que é apenas um facilitismo para pessoas sem argumentos melhores.

Quanto à velha questão do direito à vida, tenham dó!! Ontem no Prós e Contras havia um médico pelo “Não” que interpelava uma outra médica pelo “Sim” perguntando-lhe se ela nunca havia dito a uma mãe antes das 10 semanas de gravidez que aquele na ecografia era o seu “bebé”. Parece que afinal isto é tudo uma questão de semântica...
Depois também há o “outro”, professor da Universidade Nova de Lisboa, que na semana passada veio dizer que um “bebé” com 10 semanas já pisca os olhos. No comments...

Não me interpretem mal, tal como o resto dos defensores do “Sim”, eu também não sou um defensor do aborto. Acho é que as coisas não podem continuar no estado actual em que quem quer realmente fazer um aborto antes das 10 semanas, não é por ser contra a lei que o vai deixar de fazer: ou o faz em condições sub-humanas arriscando-se a morrer ou, se tiver possibilidades, vai a Espanha ou a Inglaterra.

Concordo também com o que se dizia no Prós e Contras de ontem, acerca de, no caso do “Sim” vencer, haver a necessidade de reforçar o aconselhamento às mulheres que decidem fazer um aborto, existindo também o obrigatório período de reflexão, à semelhança do que acontece noutros países onde o aborto foi despenalizado.

8 comentários:

Marina disse...

Quanto ao programa so o poderei ver hoje, porque a semelhanca de muitos outros que passam em Portugal e na RTPi, com excepcao do telejornal, ha sempre uns dias de desfasamento. Mais uma de muitas ineficiencias desse canal, mas isso e outro assunto!

Enfim, axo que votar neste referendo e bastante importante porque acaba por ser mais um problema que afecta toda a sociedade. (isto dava p mt mais so que agora nao tenho tempo)

No meio disto tudo o mais escandaloso para mim e que os portugueses que nao moram em Portugal nao podem votar em referendos. Assim sendo com muita pena tambem nao poderei votar e como para ir a Portugal precisava de uma semana inteira e mesmo impossivel! Por isso acho que quem esta por ai devia mesmo votar, independetemente do seu voto!

Feline disse...

Falam falam e não os vejo a fazer nada!
A retórica não está má, mas se depois não se vota............. enfim...........

Alex disse...

e o q é q o sr.luis sugere?

no contexto actual, só me resta mm a retórica. a não ser que alguém queira interceder junto do PR pela minha parte...

Anónimo disse...

Marina

Bom eu nao vejo como resolver isto! O que e sugeres?

So tenho voos p casa a 2a, a menos que me ponha a atravessar metade da europa e ai possa sair daki na 6a e voltar c sorte na 2a.

Nao percebo pq nao podemos votar atraves da embaixada que aqui temos mas enfim...

Espero que os portugueses que podem votar o facam da melhor forma.

Cláudio Guerra disse...

Resposta: SIM
Justificação: Não quero saber de nem ver mulheres discriminadas, humilhadas e criminalizadas pela prática da IVG.

http://camguerra.blogspot.com/2007/02/tertlia-iii.html

Embrace my friend

Anónimo disse...

Sem querer entrar em discussões filosóficas sobre o SIM e o NÃO, há um argumento particular do SIM que me desperta curiosidade: é aquele que diz que pelo facto da lei actual não ser cumprida (não há memória de alguma mulher ter alguma vez sido punida com pena de prisão por prática do aborto) nos deveríamos deixar de hipocrisias e ir todos votar a favor da mudança da lei.
Agora eu gostava de saber quando é que sai o referendo p'rá alteração das velocidades nas estradas? Ninguém cumpre...

Um abraço.

Johanna disse...

Olha que bela frase, Hugo. Comparar as velocidades na estrada com o aborto realmente é muito inteligente.
Mas já que queres ir por aí, por que não comparas também o número de abortos que são realizados por ano (dos quais há conhecimento, entenda-se) com o número de pessoas que já foram apanhadas em excesso de velocidade pelos radares espalhados em Lisboa em poucos meses?

A lei não está a ser cumprida porque não faz sentido prender uma mulher porque fez um aborto. Não se é criminosa por fazer um aborto. E pelos vistos a maioria dos portugueses finalmente percebeu que o que está em causa é alterar a lei que JÁ NÃO É cumprida e criar condições adequadas para que se evitem mais mortes desnecessárias e diminuir as lesões físias da mulher. Já que as psicológias nunca serão alteradas. Ao contrário do que muitos dos defensores do Não acham, ninguém faz um aborto de ânimo leve.

A menos que seja sado-masoquista...

**

Unknown disse...

Olá Joaninha, é verdade, o aborto em nada se compara às velocidades nas estradas, foi apenas um exemplo que eu utilizei para salientar que, se neste momento está "na moda" alterar uma lei só porque ninguém a cumpre, então há muitas outras que também poderiam ser alteradas.

Cumprimentos ao presidente.