quarta-feira, fevereiro 14, 2007

A cidade condal e o individualismo

Nestes últimos dias que passei em Barcelona, tive mais uma prova de como é possível viver numa grande cidade sem que isso prejudique forçosamente a qualidade das pessoas que lá vivem.

As pessoas que me conhecem sabem (ou deviam saber!) que nunca fui grande fã da vida em Lisboa. Nos tempos da faculdade, sempre que podia, lá ia passar o fim-de-semana a Leiria, o que até chegou a colocar alguns problemas sempre que havia trabalhos de grupo para fazer (por falar nisto, acho que nunca cheguei a expressar convenientemente às respectivas pessoas o meu agradecimento pela compreensão demonstrada).

À medida que o tempo foi passando e as amizades (e outras que tal) por Lisboa se foram cimentando, a minha “alergia” à cidade de Lisboa foi-se reduzindo progressivamente. Contudo, nunca deixei de pensar que a cidade se encontra bastante mal organizada, não contribuindo em nada para a melhoria de modos de vida que, também por questões intrínsecas admito, se revelam extremamente individualistas e até mesmo egoístas.

Não querendo reduzir a questão do egoísmo crescente apenas a este tema, penso que um dos principais problemas da cidade reside nos transportes públicos que a servem. Relativamente ao Metro, a expansão da rede parece ter congelado no tempo, não se percebendo nomeadamente como é que ainda não há Metro no aeroporto ou como é que se demora 10 mins de carro de Benfica ao Campo Grande mas 40 mins se formos de Metro. Acho que também não seria nada má ideia expandir o horário de funcionamento do Metro (em Barcelona, ao fim de semana, o Metro fecha às 2h e abre às 5h). No entanto, reconheço que convencer os trabalhadores do Metro de Lisboa a trabalhar mais umas horas numa altura em que os senhores passam a vida em greves porque querem manter os seus 35 dias de férias anuais (entre outras regalias) não se afigura nada fácil.

Quanto aos autocarros, não consigo perceber porque raio é que aqueles placards com o tempo de espera se encontram em fase de testes (para além de serem em nº muito reduzido) há já não sei quanto tempo. À noite, também não me parece que o autocarro funcione como uma alternativa muito válida, seja pela frequência reduzida ou pela imagem de falta de segurança.

Uma ideia recorrente é a de cobrar a entrada de carros num determinado perímetro da cidade de Lisboa. Assim à primeira vista, a ideia não me parece nada má. Obviamente, teria que ser feito de forma transitória, dando algum tempo às pessoas para se adaptarem e investindo paralelamente na expansão e desenvolvimento da rede de transportes públicos. Outra medida que me parece relativamente óbvia consiste na criação de grandes parques estacionamento junto a estações de Metro e de comboio que dão acesso à cidade.

Apesar da minha perspectiva limitada de turista que apenas passou alguns dias nestas cidades, Barcelona e também Nova Iorque pareceram-me cidades que têm na sua base fortes redes de transportes públicos. Acrescento ainda à lista a cidade de Roterdão, onde passei 4 meses em Erasmus, se bem que aí o facto de ser quase completamente plana dá uma forte ajuda (costumo dizer que ter uma bicicleta em Roterdão é quase o mesmo que ter carro em Lisboa).

No que toca a Lisboa, it goes without saying que o processo de mudança seria bem mais fácil se fosse acompanhado por uma alteração da mentalidade e se passássemos a ter uma atitude um bocadinho mais orientada para o colectivo, em vez de passarmos a vida a olhar para os nossos bonitos umbigos. Fica o apelo.

1 comentário:

coppola disse...

Gostava de adicionar Londres como a cidade com melhor rede de transportes. De resto, concordo. Não percebo como a rede de metro não cresce mais depressa...